O ano esta praticamente chegando ao fim (a desesperada) mas
de verdade, faltam aí 4 meses pra 2013 ir pro brejo, então nada melhor que
começar a rever alguns conceitos, fiquem com essa matéria SUPERINTERESSANTE e
reflitam.
Guia prático contra
arrependimentos
Bronnie Ware era uma australiana com uma bem-sucedida
carreira no mundo financeiro, quando se enfezou da vida. Depois de dez anos
trabalhando em bancos, juntou a coragem para pedir demissão e viajar o mundo.
Foi lavadora de pratos num resort em uma ilha paradisíaca, depois garçonete em
um pub inglês - e terminou acompanhante de uma octagenária no interior da
Inglaterra. Daí para virar enfermeira foi um passo natural, e Bronnie começou a
cuidar de doentes em estado terminal, aqueles sem chance de cura. Como o
trabalho era emocionalmente pesado, a australiana começou a se envolver com os
pacientes e a observar um padrão. Todos os doentes reagiam de formas muito
parecidas com a proximidade da morte: medo, raiva, tristeza - e sempre os
mesmos arrependimentos em relação à própria vida. Bronnie começou a anotá-los.
Eram eles: 1) Eu gostaria de ter trabalhado menos. 2) Eu queria ter tido a
coragem de viver a vida que eu desejava, e não a que os outros esperavam de
mim. 3) Eu queria ter expressado mais meus sentimentos. 4) Eu queria ter
mantido contato com meus amigos. 5) Eu queria ter sido mais feliz. Pode ser que
você não queira pensar nisso ainda ou que você já esteja lá. Mas a verdade é
que você vai envelhecer (lembrando sempre que a única alternativa possível, morrer,
é bem pior). Melhor então não se arrepender no final.
1. Eu gostaria de ter
trabalhado menos.
Essa é universal. Em um mundo no qual um emprego ocupa 40
horas semanais (se você tiver sorte) e tem um significado social mais
importante do que os valores morais de uma pessoa (afinal, a primeira pergunta
feita quando se conhece alguém costuma ser "o que você faz?" e não
"você dá esmola?"), o trabalho anda com um peso desproporcional em
relação às outras questões da vida. Nunca se trabalhou tanto - o que indica que
esse arrependimento é o do tempo perdido. Antropólogos estimam que nossos
antepassados caçadores-coletores não trabalhavam mais do que quatro a cinco
horas por dia, sempre procurando ou preparando alimentos. Na Grécia Antiga, um
emprego era uma sina terrível: Homero, o autor da Odisseia, escreveu que os
deuses odiavam tanto os humanos que os condenaram a trabalhar arduamente como
castigo. E a condenação seguiu por milênios. A nossa relação com o trabalho só
mudou no século 16, com a ética protestante, aquela que mede o destino das
almas depois da morte com base no sucesso profissional durante a vida. Ela foi
a culpada por colocar o trabalho no centro da vida das pessoas, onde permaneceu
até hoje. Mas há uma crise na nossa relação com o trabalho. De acordo com uma
pesquisa da consultoria americana Mercer, feita com mais de 1.200 empregados,
56% dos brasileiros afirmam que consideram seriamente pedir demissão. Para os
trabalhadores do Brasil, o principal fator motivacional é o tipo de emprego que
ele faz. E é ele que está em conflito. Segundo o filosófo-pop francês Alain de
Botton, a crise com o emprego que estamos vivendo é a da falta de sentido.
Antigamente, pessoas faziam ou realizavam algo com o seu trabalho: eram
padeiros, costureiros, vendedores. Esse tipo de ocupação, que tem uma relação
direta com o produto final, quase desapareceu: foi substituído por trabalhos
mais segmentados e burocráticos dentro de grandes empresas. É só procurar
exemplos na lista de cargos na empresa onde trabalho - o que faz um
"gerente de operações pleno" ou um "analista de infraestrutura
júnior"? Certamente, algo menos palpável que pão ou roupa.
"Procuramos um significado no nosso trabalho, uma sensação de que deixamos
alguém melhor com o que fazemos. Ele deveria ser uma chance de criar algo que é
mais sólido do que o resto das nossas vidas", diz de Botton, em uma
palestra sobre seu livro Os Prazeres e Desprazeres do Trabalho. Deveria, mas,
na maior parte dos casos, não é. Ainda assim, poucas são as pessoas que resolvem
dedicar menos tempo e energia a seus empregos. A própria Bronnie sentiu isso na
pele. "É mais difícil largar a rotina do trabalho do que o trabalho em si.
O emprego vira uma grande parte da identidade das pessoas, ao ponto de que não
sabem mais quem são longe dele", diz. Essa crise de identidade nos leva ao
arrependimento número 2.
2. Eu queria ter tido
a coragem de viver a vida que eu desejava, e não a que os outros esperavam de
mim.
O ser humano é um animal social. Só chegamos aqui, depois de
milênios de evolução, porque aprendemos a criar e manter alianças - seja para
caçar comida nos tempos da caverna, seja para fundar impérios ao longo da
História, seja para arranjar trabalho e ter com quem conversar no Facebook hoje
em dia. Isso quer dizer que buscamos manter e fortalecer relações sociais - e,
para isso, queremos agradar e ser aceitos. Uma pesquisa da Universidade de
Minnesota testou esse nosso comportamento. Primeiro, colocou voluntários para
conversar com mulheres que eles não podiam ver, por meio de microfones. Depois,
disse a metade deles que iriam bater papo com moças muito bonitas e, para a
outra metade, que seriam mulheres, digamos, menos estonteantes. Imediatamente,
os homens que julgavam falar com beldades começaram a ser gentis e engraçados -
queriam agradar as moças. Mas o que surpreendeu é que as mulheres do outro lado
da linha começaram a entrar no jogo: conversavam como se fossem realmente mais
bonitas do que as outras, sem nem saber que haviam sido classificadas assim. Ou
seja, atendiam às expectativas dos voluntários.
Agimos assim o tempo todo, das coisas banais do dia a dia,
como rir da piada sem graça de um amigo, às grandes escolhas de vida, como
decidir que carreira seguir. "As pessoas não tomam decisões por si, tomam
pelos outros, porque querem ser queridas. Assim, a felicidade acaba na mão de
terceiros", diz Ana Claudia Arantes, geriatra especializada em cuidados
paliativos, do Hospital Albert Einstein, em São Paulo. O problema é que fazer o
que os outros esperam de você tem um lado pernicioso: na verdade, não deixa
ninguém feliz. Um estudo da Universidade Estadual da Flórida que analisou seis
pesquisas diferentes sobre o assunto, concluiu que quem busca o tempo todo a
aprovação dos outros, tem mais chance de desenvolver depressão. Esforçam-se
tanto para agradar que se perdem no meio do processo. E, claro, não conseguem
fazer o que realmente têm vontade: trabalhar menos, por exemplo, dizer
"não" ou...
3 e 4. Eu queria ter
expressado mais meus sentimentos e queria ter mantido contato com meus amigos.
Não ter dito "eu te amo" e ter passado pouco tempo
com as pessoas queridas são dois arrependimentos que conversam entre si - e são
dois dos mais importantes também. E não é a SUPER que diz isso, é o maior
estudo de psicologia já feito. O Grant Study ("Grande Estudo", em
português) é uma pesquisa que acompanha a vida de 268 ex-alunos de Harvard
desde 1937 até os dias de hoje, e que mede todos os fatores de suas biografias
para recolher dados sobre saúde, bem-estar e escolhas de vida. E chegou a uma
conclusão impressionante: aos 47 anos, o fator que mais previa a saúde e a
felicidade de uma pessoa na velhice eram as relações sociais que ela mantinha.
Era, claro, o fato de ter um marido ou uma esposa, mas era principalmente a
quantidade de amigos que eles cultivaram ao longo dos anos. O estudo concluiu
que idosos de 70 anos com amigos tinham 22% a mais de chance de chegar à oitava
década. E mais: outro estudo mostrou que quem tem o hábito de dizer a pessoas
próximas como elas são importantes se sente 48% mais satisfeito com as relações
que mantém. "Os amigos nos dão um senso de identidade - ajudam a nos
tornar algo maior do que nós mesmos e a definir quem somos. Não precisamos
somente de relações humanas. Precisamos de amigos muito próximos", diz Ed
Diener, professor de psicologia da Universidade de Illinois, especialista em
felicidade. O que nos leva a...
5. Eu queria ter sido
mais feliz.
Essa é de partir o coração. Chegar ao final da vida com esse
remorso é mais comum do que parece. Para Diener, que estuda a felicidade há
três décadas, ser feliz depende em grande parte das escolhas que fazemos - e
não só de alguns poucos eventos de sorte esporádicos. Ou seja, seria bom parar
de levar a vida no automático e exercer a felicidade. Pare de confirmar
presença no aniversário do amigo no Facebook - e vá de fato. Junte a coragem de
dizer para o seu parceiro que você na verdade odeia filmes europeus e prefere
ver a sequência do último Homem de Ferro. E ninguém vai morrer se você deixar
seu trabalho um pouco de lado de vez em quando (um alô para meu chefe que
esperou três meses para essa reportagem ficar pronta). Para Bronnie, as reações
de seus pacientes valem ouro: são um guia prático contra arrependimentos.
"Como os conselhos vêm de pessoas que estão se preparando para morrer,
servem como autorização para você mudar a sua vida também." Está esperando
o quê?
Para saber mais
The Working Life: The Promise and Betrayal of Modern Work
Joanne Ciulla, Crown Business, 2001.
Happiness: Unlocking the Mysteries of Psychological Wealth
Ed Diener e Robert Biswas-Diener, Wiley-Blackwell, 2008.
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